1.2 Etnocentrismo, estereótipo e preconceito

A reação diante da alteridade faz parte da própria natureza das sociedades. Em diferentes épocas, sociedades particulares reagiram de formas específicas diante do contato com uma cultura diversa à sua. Um fenômeno, porém, caracteriza todas as sociedades humanas: o estranhamento, que chamamos etnocentrismo, diante de costumes de outros povos e a avaliação de formas de vida distintas a partir dos elementos da sua própria cultura.

Assim, percebemos como o etnocentrismo se relaciona com o conceito de estereótipo, Os estereótipos são uma maneira de “biologizar” as características de um grupo, isto é, considerá-las como fruto exclusivo da biologia, da anatomia. No interior de nossa sociedade, encontramos uma série de atitudes etnocêntricas e biologicistas.

O estereótipo funciona como um carimbo que alimenta os preconceitos ao definir a priori quem são e como são as pessoas. Sendo assim, o etnocentrismo se aproxima também do preconceito. Encontramos um exemplo de intolerância religiosa na relação com o candomblé e outras religiões de matriz africana. O preconceito relativo às práticas religiosas afro-brasileiras está profundamente arraigado na sociedade brasileira por essas práticas estarem associadas a negros e negras, grupo historicamente estigmatizado e excluído.

Além das práticas religiosas, em nossa sociedade, existem práticas que sofrem um profundo preconceito por parte dos setores hegemônicos, ou seja, por parte daqueles que se aproximam do que é considerado “correto” segundo os que detêm poder. Seguindo essa lógica, as práticas homossexuais e homoafetivas, são condenadas, vistas como transtorno, perturbação ou desvio à “normal e natural” heterossexualidadel. Foi necessária a contribuição de outros campos do conhecimento para romper com a idéia de “homossexualismo” como doença e construir os conceitos de homossexualidade e de orientação sexual, incluindo a sexualidade como constitutiva da identidade de todas as pessoas. O preconceito contra pessoas com orientação sexual diferenciada vem sendo fortemente combatido pelo Movimento LGBT. Consideradas, no passado, um pecado pela religião (e por muitos até hoje), uma doença pela medicina, um desvio de conduta pela psicologia, as práticas homoeróticas, nas últimas décadas, têm contribuído para a superação do estigma que as reprova e persegue. Embora se trate de um grupo social ainda fortemente estigmatizado, é inegável que a atuação dos movimentos sociais tem provocado mudanças no imaginário, e agregado conhecimentos sobre a homossexualidade, de maneira a tirá-la da “clandestinidade”.

Questões de gênero, religião, raça/etnia ou orientação sexual e sua combinação direcionam práticas preconceituosas e discriminatórias da sociedade contemporânea. Se o estereótipo e o preconceito estão no campo das idéias, a discriminação está no campo da ação, ou seja, é uma atitude.

O predomínio de livros didáticos e paradidáticos em que a figura da mulher é ausente ou caracterizada como menos qualificada que o homem contribui para uma imagem de inferioridade feminina, por um lado, e superioridade masculina, por outro. Silenciosamente, vão sendo demarcados, com uma linha nada imaginária, os lugares dos homens e os lugares das mulheres. E os homens e as mulheres que fugirem desse roteiro pré-definido terão seus valores humanos ameaçados ou violados. O grupo social, respaldado por um conjunto de idéias machistas, exercerá seu controle e fortalecerá os mecanismos de exclusão e negação de oportunidades iguais.

Os módulos II e III nos trarão outras reflexões e exemplos relacionados às discriminações de gênero e orientação sexual, respectivamente, apresentando os principais desafios e as conquistas dos movimentos de defesa desses grupos. É importante destacar que há mudanças acontecendo, por exemplo, no que se refere às mulheres.

A superação das discriminações implica a elaboração de políticas públicas específicas e articuladas. Os exemplos relativos às mulheres, aos homossexuais masculinos e femininos, às populações negra e indígena tiveram a intenção não apenas de explicitar que as práticas preconceituosas e discriminatórias – misoginia, homofobia e racismo – existem no interior da nossa sociedade, mas também que essas mesmas práticas vêm sofrendo profundas transformações em função da atuação dos próprios movimentos sociais, feministas, LGBT, negros e indígenas. Tais movimentos têm evidenciado o quanto as discriminações se dão de formas combinadas e sobrepostas, refletindo um modelo social e econômico que nega direitos e considera inferiores mulheres, gays, lésbicas, transexuais, travestis, negros, indígenas.

A desnaturalização das desigualdades exige um olhar transdisciplinar, que, em vez de colocar cada seguimento numa caixinha isolada, convoca as diferentes ciências, disciplinas e saberes para compreender a correlação entre essas formas de discriminação e construir formas igualmente transdisciplinares de enfrentá-las e de promover a igualdade.

A convivência com a diversidade implica o reconhecimento o respeito, e a valorização do/a outro/a, e supõe não ter medo daquilo que se apresenta inicialmente como diferente. Esses são passos essenciais para a promoção da igualdade de direitos.
Video Aula da UFSC:

7 respostas em “1.2 Etnocentrismo, estereótipo e preconceito

  1. Já passou da hora de reconhecer que a cor de pele, opçao sexual, classe social e outras diferenças, Não faz de nós diferentes, apenas abre uma possibilidade de lutarmos para nos tornarmos cada vez mais iguais. Somos todos humanos.

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    • Vivemos em uma sociedade capitalista onde alguns valem mais e outro valem menos. Existem diferenças sociais, raciais, e de gênero Historicamente negros e negras são desqualificados.Mulheres também sendo que mulheres brancas valem mais que homens negros e mulheres negra. Acreditar que somos iguais pelo simples fato de sermos humanos é negar o racismo institucional. Aqui no Brasil a cor da pele dá o tom , quanto mais claro mais oportunidades a pessoa tem. Luto para que todos tenham dignidade humana igualdade de direitos para todos e direito a diferença ; que a minha diferença não me torne desigual. Que a minha orientação sexual e não opção sexual não me desiguale perante o outro.

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  2. Excelente tema para estudo e reflexão. Conforme lemos os materiais e assistimos os vídeos, parece que as imagens do que acontece na nossa rotina vão passando como um filme em nossas mentes. Temos muito a aprender ainda para alcançar a igualdade para todos.

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  3. Interessante ouvir os relatos com temas geradores de conflito e ouvir também que eles são importantes, dependendo do contexto. Também concordo com ela e costumo comentar com amigos que não é só a escola um espaço de preconceito e discriminação. É um deles, mas isso está presente em qualquer espaço de convivência de pessoas, a escola é o segundo espaço social e muitas crianças e jovens já trazem de casa muita formação/informação carregada de “certezas” que se chocarão com os outras “certezas”.

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  4. Bastante interessante a noção de conflito, já que ele é uma válvula para resolver as diferenças e também ajustá-las, sobretudo quando a sua forma de resolução é obtida através do diálogo, É uma forma das pessoas ajustarem as suas diferenças e também aprender a noção de empatia, tão fundamental para as relações harmoniosas.

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  5. Tema muito bom para amplietude de conhecimento e sensibilização no ambiente escolar.
    Não tinha conhecimento desta determinação…aprendendo muito com esse curso e o conteúdo esta amplo e enriquecedor.

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